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Ricardo A. Gomes



Amigos, confiram aqui uma HQ estilosa e brasileira com o famoso explorador Coronel Fawcett:

sábado, 19 de junho de 2010

Metodologia Científica de Pesquisa e os "Narradores de Javé" (Brasil, 2003)

por Ricardo A. Gomes


"Saudações Historiadores"...!

O PAPEL DO HISTORIADOR NA CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA


Como se pressupõe, toda pesquisa dita "Científica", detém, como característica primordial, a observância de três aspectos que asseguram sua veracidade e importância, sendo estes a Globalidade, a Radicalidade e o Rigor.
Além destes requisitos, sabemos também que a pesquisa científica seja no campo histórico, ou em outra disciplina, se vale de uma série de "ferramentas" que contribuem na elaboração do projeto objetivado.
Mas a grande problemática se dá quando nos damos conta da "autenticidade" da fonte usada para o estudo do objeto de estudo seja, digamos assim, "questionável". Isso se dá quando essa dita "Fonte" seja passível de mudanças, uma vez que ela não é material, física, mas proveniente do legado cultural de um lugar.
Em particular, a "Fonte Oral" é muito utilizada em pesquisas de Ciências Sociais, entretanto, sua aplicação é válida, para o historiador, em determinado ponto do projeto onde não é possível obter dados, os quais não podem ser encontrados em registros e fontes documentais, mas sim, por certas pessoas.
A "Entrevista" deve seguir critérios para uma satisfatória coleta de dados que sejam relevantes com o objeto de pesquisa. Estes critérios incluem planejamento, conhecimento prévio do entrevistado, compromisso com o agendamento da entrevista e é claro, dependendo do aspecto a ser levantado dentro da pesquisa, a quantificação do número de entrevistados irá variar de acordo com sua relevância.
Ora, e o que temos no filme de Eliane Café, “Os Narradores de Javé” (Brasil, 2003)?
O filme em particular, chama a atenção dentro de seu enredo, mesmo que informalmente, a “Figura” do historiador e/ou pesquisador em ação. Considera-se “informal”, uma vez que a personagem caracterizada e interpretada pelo ator brasileiro José Dumont é um indivíduo que dentro do contexto da trama é único dotado da prática de redação (apesar de estruturada de forma irregular, aproveitando-se de nomes e termos, ora estrangeiros, ora coloquiais, não deixa ser no mínimo particular e curiosa) entre os outros que “gravitam” ao redor dele.
Em sumo, a personagem conhecida como “Antônio Biá” (José Dumont) assume a tarefa de transpor a Tradição Oral para a escrita, e é justamente esse fato, que servirá de exemplo para algumas precauções e devida manutenção da postura científica do Pesquisador/Historiador.
Vários elementos na trama respaldam-se no cotidiano do profissional que se propõem a elaborar uma pesquisa, ou se encontra em determinado estágio dela.
Verifica-se em determinada cena, a personagem “Antônio Biá” conduzindo uma entrevista (esta em particular é muito interessante ) com dois senhores, identificados na trama, como antigos moradores do vilarejo, que além do testemunho e narração de fatos ocorridos que mantém laços hereditários com os fundadores do local, enriquecem muito mais a pesquisa, ao apresentarem documentação, inventários e fotos. Ao contrário do historiador, o “ilustríssimo” e “culto” Sr. Antônio Biá ignora tais fontes e não consegue conduzir para uma linha evolutiva a narrativa, acarretando em “surtos” de informações paralelas, que mesmo o espectador mais atento, também se rende à tentativa frustrada de construir um momento histórico.
Em outra oportunidade, “nosso pesquisador honorário” se vê diante de uma riqueza de fontes, que, de “tão rica” (aqui explicitada como variada e multifacetada) chega a confundir à ele e ao espectador. Biá chega a uma breve conclusão de que “seria melhor juntar as versões”, de forma que apesar serem diferentes conservam alguns elementos que, por assim dizer, “batem”.
O Historiador que preserva sua postura cientifica teria o bom senso de, sim, atentar à narrativa de seus entrevistados, porém, não de forma tão súbita como Antônio Biá, mas ponderada no aspecto que mesmo a personagem que conduzia a entrevista, também observou, que foi as “similaridades” dos depoimentos.
Ora, nesse caso, cabe ao Historiador, não subverter a História, mas filtrá-la de tal forma, que lhe possibilite, não encerrá-la de imediato, mas, preservar o material “original” e “não contraditório” que lhe abrirá as “portas para uma outra linha de condução da investigação”.
Quais elementos, no filme, tiveram a devida ilustração? Antônio Biá teve acesso a Fontes Orais, Sítios Arqueológicos, Documentação Histórica e também Relíquias pertencentes aos fundadores.
A trama nos mostra um Mito Fundador que precisa ser transcrito para uma documentação definitiva... Porém, nosso “herói”, entendeu, mesmo em sua, vamos dizer, “limitação intelectual”, que nenhum dos envolvidos realmente estava comprometido em contribuir para o registro histórico, mas para fazer “parte” da história ao seu modo!
Por fim, Biá é notado pelo espectador já no término do filme, realizando de uma forma por assim dizer, “pura”, a nova história daquele vilarejo... Que precisa começar de novo.
É a história de fato acontecendo! O que não houve registros nos primórdios, pode até não ser resgatado, entretanto, pela primeira vez, no fictício vilarejo de “Javé”, um historiador tem, finalmente, a oportunidade de registrar os momentos cruciais de um povo.
E voltando novamente ao papel do historiador, basta que ele, a princípio, saiba discernir cientificamente o que é “fato” e o que é “Boato”.
Não é o fundamental, mas é justamente a essência da personagem de José Dumont, “Antônio Biá”, que precisa estar “fundamentada” na mente e no coração do profissional. A cena em que vemos Biá, ao longe, assistindo “o subir das águas”, num choro contido e sofrido, comove, porque remete ao primeiro sentimento que me vem à mente, no que se refere à atitude de um historiador.
A história não é feita apenas de fatos “bonitos”, “épicos” e “grandiosos”.
Não. Por isso, o Historiador deve se desfazer de todo preconceito, toda informalidade que não lhe é permitida, mas sim, como “Antônio Biá”, mesmo que “em um choro contido”, assegurar que a realidade dos fatos contribua com o futuro de seu povo, de sua gente.
Isto sim é fazer com que a História seja preservada, para que os que vierem depois de nós, a conheçam, aprendam e evoluam... Isto sim é o papel do Historiador.
Um compromisso que beneficiará a toda uma nação... pelos tempos que virão.
"Narradores de Javé", Ricardo Gomes recomenda!

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